Aula inaugural marca início do Projeto de Interiorização Quilombola

Aula inaugural marca início do Projeto de Interiorização Quilombola

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Evento ocorreu na última sexta-feira, 21, para um público de cerca de 300 pessoas. Ao todo, 360 quilombolas cursarão três graduações ofertadas em suas próprias comunidades.

Desde o primeiro ano do ensino médio Benedito Cantuária, morador da comunidade quilombola Igarapé do Lago, localizada no município de Santana (AP), tinha o interesse em trabalhar na educação de crianças e ser professor na sua própria comunidade. “Eu fiz alguns cursos na área e isso despertou o interesse em fazer o curso [de Pedagogia] e na Unifap, por ser [universidade] federal. Já tinha tentado entrar várias vezes, pelo Enem, e hoje estou conseguindo realizar esse sonho”, diz. Um objetivo de vida que agora está se tornando realidade com a implementação do Projeto de Interiorização de Graduação Quilombola, da Universidade Federal do Amapá Unifap), que está levando três cursos superiores para seis comunidades quilombolas do estado. A aula inaugural ocorreu na última sexta-feira, 21, no campus Marco Zero do Equador, em Macapá (AP), com a participação de cerca de 300 pessoas.

De acordo com a coordenadora-geral da implementação da graduação quilombola, Profa. Dra. Nelma da Silva, a aula inaugural é a concretização do processo de efetivação do projeto. “É um projeto que vem desde 2019 e em decorrência de todos os acontecimentos, sobretudo a pandemia de coronavírus, não tínhamos conseguido realizar. Estamos trazendo, hoje, a população dos quilombos, os acadêmicos quilombolas, para que possamos fazer a demarcação do início do projeto. É um momento muito importante porque a gente consegue congregar os acadêmicos, a Instituição, mostrar a Unifap e fazer com que essas pessoas se sintam inseridas dentro do contexto da Universidade”, explica.

A programação iniciou com a mesa de abertura do evento, com a participação da reitora em exercício da Unifap, Profa. Dra. Simone Leal, que, emocionada, expressou em seu discurso a satisfação em participar da aula inaugural do projeto que marca a inserção em massa de acadêmicos quilombolas na Unifap e que se tornou referência nacional.

“O evento de hoje faz parte de um dos momentos memoráveis da minha vida. O projeto é resultado de muita luta, os quilombolas não estão recebendo o projeto, vocês conquistaram esse projeto. Em segundo lugar, é um projeto que têm pessoas que estão profundamente envolvidas com ele em um nível mais que profissional, é pessoal; o projeto vai extrair o melhor de nós, professores. Nós queríamos fazer o melhor possível para recebê-los neste momento, que é uma mudança de paradigma, de entendimento da Universidade como ela é”, enfatizou a reitora em exercício.

O pró-reitor de Ensino de Graduação, Prof. Dr. Christiano Ricardo dos Santos, e a vice-coordenadora do projeto, Profa. Dra. Érika Fernandes, também compuseram a mesa de abertura do evento e deram as boas-vindas aos calouros. Em seu discurso, o pró-reitor destacou o esforço coletivo dos atores sociais envolvidos para que o projeto fosse realizado. A vice-coordenadora do projeto afirmou que é motivo de orgulho fazer parte do projeto e relembrou que a Unifap e seus professores têm cumprido o papel de levar educação pública e de qualidade para todos.

A coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas no Amapá (Conaq-AP), Nubia de Souza, destacou que o projeto escreve mais um importante capítulo na história do Brasil e do mundo de combate ao racismo e corrigindo a ausência de ações da Unifap voltadas aos quilombolas.

“A Universidade não estava nos assistindo, os negros das comunidades não estavam acessando [a Unifap]; há mais de 20 anos muitos deixaram suas terras, mas não estavam tendo o sonho realizado de ter alguém graduado na família. […] Nós estamos escrevendo a nossa história e dizendo que a Universidade tem que ir para o quilombo; a Universidade não deve nos usar mais simplesmente para ser as suas dissertações e trabalhos de finalização de cursos; nós vamos dar o diploma a eles do que é ser quilombola nesse país”, afirmou Nubia de Souza.

A programação se estendeu por toda a sexta-feira, com apresentação dos espaços da Unifap, momentos culturais, almoço no Restaurante Universitário, palestra e evento de encerramento.

O Projeto de Interiorização de Graduação Quilombola surgiu a partir de demandas das comunidades quilombolas e dos diálogos entre a Unifap e a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq). Na primeira etapa do projeto, 360 alunos das comunidades quilombolas amapaenses Curiaú, Abacate da Pedreira, Carmo do Maruanum, Mazagão Velho, Torrão do Matapi e Igarapé do Lago cursarão as graduações de Pedagogia, Ciências Biológicas e Letras Português/Francês, dentro das comunidades quilombolas, oportunizando que seus habitantes possam cursar as graduações em seus locais de origem e vivência. A implantação do projeto conta com emenda parlamentar da ex-deputada federal Leda Sadala (PP-AP).

Para Benedito Cantuária, ter a opção de frequentar a graduação sem precisar sair da sua comunidade é o grande diferencial do projeto. “A expectativa agora é estudar e aproveitar essa oportunidade que a Unifap nos deu e que para mim era um sonho e hoje está sendo realizado. [A Unifap] indo para nossa comunidade é muito melhor, nós da comunidade de Igarapé do Lago teríamos antes que vir para Macapá, deixando muitas vezes nossas famílias lá para vir sozinho e tentar a vida para cá”, observa.

Além do Benedito, a quilombola Rosiane Costa, também oriunda do Igarapé do Lago, cursará Pedagogia. Ela já havia iniciado a graduação em uma faculdade particular, mas teve de interromper o curso porque perdeu o emprego. “Agora que a Unifap deu essa oportunidade, está sendo muito bom. Estou muito ansiosa [para cursar a graduação] porque é um sonho mesmo, eu adoro criança, sempre trabalhei com criança, então eu acho que me darei muito bem nessa profissão”, avalia.

Crédito das fotos: Charles Almeida e Érika Fernandes.

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