Expansão da agricultura ameaça savanas amazônicas

Compartilhe:

As savanas do Amapá estão sobre ameaça imediata pela expansão de plantações de soja.

A conversão desses ecossistemas únicos para o agronegócio está sendo facilitada por um zoneamento da área de savana feito recentemente pelo governo estadual.

Apesar da Amazônia ser bem conhecida por suas florestas, quase 207 mil quilômetros quadrados da região são cobertos por ilhas de savana.

Estas savanas amazônicas possuem biodiversidade bem distinta das florestas, o que justifica a sua conservação.

Dois trabalhos recentes demonstram que uma das maiores savanas amazônicas, localizadas no Estado do Amapá, estão sob intensa pressão do agronegócio, que continua a se expandir sem limites na região.

“O Amapá tem 73% de sua área protegida em unidades de conservação e terras indígenas, mas as savanas do estado continuam pouco protegidas”, declara Renato Hilário, professor da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) e um dos autores dos dois trabalhos.

O primeiro artigo, publicado na revista Nature Conservation, caracteriza a biodiversidade da savana amapaense e faz a primeira síntese das ameaças que este tipo único de ecossistema sofre.

“Descobrimos que a savana amapaense é muito especial, com várias espécies endêmicas e um grande valor para a conservação, afirma William Douglas de Carvalho, pós-doutorando da Unifap, e a também autor do artigo”.

O segundo artigo, publicado na revista Tropical Conservation Science, trata de uma avaliação do Zoneamento Socioambiental do Cerrado (ZSC), promovido pelo governo do estado do Amapá.

“Ficamos surpresos ao descobrir que o governo está usando o ZSC para legitimar a expansão do agronegócio nas savanas do estado com grande prejuízo à biodiversidade e as populações tradicionais que ocupam este tipo de ecossistema”, comenta o professor José Maria Cardoso da Silva, da Universidade de Miami, que também participou dos dois artigos.

“Há, claramente, uma tendência do governo de adotar um caminho mais curto e perigoso para criar a base legal para a expansão do agronegócio nas savanas amapaenses sem antes desenvolver um plano de uso da terra baseado em ciência de boa qualidade e ampla consulta popular.

O nosso propósito com o artigo foi chamar a atenção para o problema e propor algumas soluções imediatas para o problema, antes que ele se torne irreversível”, pondera Silva.

Enquanto a expansão do agronegócio tem se dado fortemente sobre as savanas amazônicas.

“Este crescimento acelerado em novas regiões de fronteira joga por terra todo o discurso de que a agricultura brasileira é sustentável, afirma Silva.

“Para a agricultura ser minimamente sustentável, ela precisa produzir mais nas áreas já desmatadas e não expandir de forma desorganizada sobre ecossistemas nativos, comenta Silva.

“Infelizmente, encontramos áreas agrícolas até dentro de uma das unidades de conservação no Amapá, o que é um ato deplorável sob qualquer perspectiva”, denuncia William Carvalho.

“Um zoneamento socialmente justo precisa respeitar os direitos dos povos indígenas, tradicionais e locais, incluindo o direito à verdadeira e efetiva participação no processo de elaborar o zoneamento” explica Karen Mustin, pesquisadora da Universidade de Aberdeen, que também participou dos estudos.

“O ZSC não contou com esse tipo de participação, e esperamos que o novo Zoneamento Ecológico-Econômico seja elaborado junto com esses povos e com outros atores sociais envolvidos, como cientistas e profissionais da conservação” conclui Mustin.

“Defendemos a criação de áreas protegidas que elevem a proteção das savanas do estado para 30% e o incentivo à agricultura familiar como modelo produtivo, já que esta é a principal responsável pela produção dos alimentos consumidos no Brasil e pela geração de empregos no campo e que foi deixada de lado no Amapá na última década” ressalta Hilário.

Texto: DivulgaçãoLinks para os artigos:Hilário RR, Toledo JJ, Mustin K, Castro IJ, Costa-Neto SV, Kauano EE, Eilers V, Vasconcelos IM, Mendes-Junior RN, Funi C, Fearnside PM, Silva JMC, Euler AMC, Carvalho WD. 2017. The Fate of an Amazonian Savanna: Government Land-Use Planning Endangers Sustainable Development in Amapá, the Most Protected Brazilian State. Tropical Conservation Science 10. <http://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1940082917735416> Mustin K, Carvalho WD, Hilário RR, Costa-Neto SV, Silva CR, Vasconcelos IM, Castro IJ, Eilers V, Kauano EE, Mendes-Junior RNG, Funi C, Fearnside PM, Silva JMC, Euler AMC, Toledo JJ. 2017. Biodiversity, threats and conservation challenges in the Cerrado of Amapá, an Amazonian savanna. Nature Conservation 22: 107-127. <https://natureconservation.pensoft.net/articles.php?id=13823>

Galeria de imagens

Compartilhe:
Fechar Menu